9 de novembro de 2011

Cachorrada voando!


Um pensamento positivo e uma fala de “mãe de cachorro”: “Vai dar tudo certo, meu amor!”, era o que eu podia fazer naquele momento pela Sara. Apesar de muito apreensiva pela primeira viagem de avião dela no bagageiro, precisava ser firme e otimista. Durante vários momentos no vôo mandavam minhas boas energias à ela.
            Com o Eros era diferente, ele ia comigo, não na bagagem. Já tinha viajado de avião quando fomos a SP e se comportou muito bem. Fui acomodada no primeiro acento da aeronave, onde há espaço para ele deitar no chão. Mas algo não estava bem, a movimentação de funcionários da GOL no avião e os olhares voltados para mim indicavam que a Lei não era conhecida para todos (novamente!). Uma das atendentes que realizou o meu check in explicava com propriedade a legislação e afirmava conhecer a escola e, inclusive, uma usuária cega. Até que o gerente veio em minha direção e sussurrou: “Você não se importaria de...Você tem a caixa de transporte dele aqui, neh?!”. Respirei fundo e respondi: “Não senhor, não tenho a caixa porque vou transportá-lo aqui comigo conforme a Lei Federal prevê. O senhor sabe, não é mesmo? Não são apenas os usuários cegos que podem, a lei assegura o voluntário e o treinador da mesma maneira! Consulte a Lei, por favor, tenho aqui comigo, veja!”. Depois de alguns minutos de atraso na decolagem, recebo a confirmação do gerente com um sorriso: “Senhora, desculpe pelo mal entendido, está tudo correto, espero que vocês tenham um ótimo vôo!”. (É no mínimo isso que espero das pessoas, que elas aceitem que não possuem todo conhecimento do mundo, consultem as informações e tenham a dignidade de dizer que falharam e agora estão informados!). Aproveito para agradecer a GOL novamente por nos receber bem.
            Em SP, na conexão, sai com o Eros para que pudesse fazer suas necessidades fisiológicas, só então retornamos à sala de embarque. Diversas crianças, loucas para brincar com ele, nos esperavam. Como sempre, expliquei o motivo de não podermos brincar naquele momento. É impressionante como ele fica mais agitado quando percebe que pode receber carinho de alguém, ao contrário, permanece deitado sem levantar a cabeça. Essa segunda atitude é um pouco frustrante para as pessoas que o chamam com assovios, palmas ou até mesmo com o velho e famoso “vem totó, vem!”. Ele não dá bola, nem olha, sabe que está a trabalho.
            Na mesma sala de embarque percebo uma senhora se aproximando da fila e dizendo para sua neta (suponho): “Era só o que me faltava, um cachorro aqui!”. Acostumada com os comentários e certa de que a presença do Eros não atrapalharia ninguém, não levei em consideração. Quando entro no avião escuto bem alto a mesma voz dizendo: “Minha Nossa Senhora, Aeromoça! Tem um cachorro aqui dentro!”. A comissária muito solícita se aproximou da senhora e explicou com suas palavras: “Minha Senhora, fique tranqüila, este cão é adestrado!”. Inconformada completou com o ápice da exclamação: “E se ele faz cocô aqui dentro?!”. O avião inteiro escutou o motivo da preocupação da senhora e as risadas foram inevitáveis. Me surpreendi com os olhares que recebi de muitos com expressão “ela não sabe o que está falando!”. Então aí tive a certeza de que apenas ela tinha este receio. Sorri quieta e a comissária disse o que muitas vezes passa na minha cabeça, mas não verbalizo: “Minha senhora, este cachorro é mais educado do que muito ser humano!”. Tanto a senhora quanto os demais passageiros riram: era o fim da preocupação.
            A viagem foi tranqüila, o Eros dormiu como um bebê (quer dizer, muito mais do que um bebê, porque a menina que estava na poltrona ao lado não parou quieta um segundo!). Inclusive, quando o piloto da aeronave veio conhecer o Eros de perto e afirmou: “Me surpreende a rapidez com que estes cães aprendem um comando!”, o pai da menina disse: “Sim, já passou 1 ano e 2 meses e minha filha ainda não aprendeu a sentar e ficar quieta! Preciso matriculá-la nesta escola de cães!”.
            Depois de longas 6h35min, cheguei na Terra do Sol! Lá estava o meu amor me esperando. Oh, que sensação maravilhosa. Ah, e lá estava também um segurança na porta da sala de desembarque. Não pensou duas vezes e veio em minha direção antes mesmo que eu pudesse me jogar nos braços do meu amado: “Senhora, aqui só pode cão guia! Os demais devem ser carregados no colo”. Após tentar me imaginar com o Eros no colo, dei aquela infalível respirada funda. Olhei para confirmar, lá estava na capa do Eros: CÃO GUIA APRENDIZ. Então confirmei: “Ele É CÃO GUIA!”. Veio a fala que eu já esperava: “Mas só pode com deficiente visual!”.
“Puta que pariu, saí de Navegantes, fiquei 1 hora no vôo com esse cão, depois parei em SP, fiquei 2 horas circulando pelo aeroporto de Guarulhos com esse cão, embarquei em mais uma aeronave com esse cão, fiquei mais 3 horas voando com esse cão e agora que cheguei no meu destino e estou indo embora tu vem me dizer que eu tenho que pegar mais de 30kg no colo pra poder sair do aeroporto? Vai se $%&*¨#@!!”
Mas na verdade eu respondi:
“Senhor, por favor verifique a Lei!”, busquei minha vira-lata querida e fui embora!
Em uma olhadinha para trás vejo o mesmo segurança fazendo sinal de positivo com o rádio na mão! Mais um ser humano informado! UFA!

Um comentário:

  1. Que légal Sil, ainda temos mto a aprender mesmo. beijos

    Juli Haas

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