10 de agosto de 2012

ELEVADOR


            Existem atividades que geram diversos sentimentos ao mesmo tempo por aqui. O transito, como já disse, desenvolve o sentimento de raiva ao mesmo tempo desperta o instinto de sobrevivência. Mas, na minha opinião, a mais intensa é TENTAR ENTRAR NUM ELEVADOR.
            Vamos lá, você está no shopping, passeando, vendo vitrines e se divertindo. De repente, o andar se esgota e você pensa:
“Vou pegar o elevador e desbravar as lojas do piso superior!”.
Aaaaah, péssima ideia! Essa eterna insatisfação do ser humano...o velho “querer mais”. Não podia ficar só num andar, não?!

Continuando...
Você se aproxima do elevador e antes mesmo que sua visão periférica (que o oftamologista jura estar ok) pudesse perceber, chega uma galera que, pela lei dos bons modos deveria ficar atrás de você. Mas não, estão todos na sua frente, até te empurram pra trás com os ombros! Eles apertam o botão antes do seu dedo chegar lá, e não apertam um só, apertam todos (sobe, desce...se tivesse pro lado e pro outro, eles apertariam também!). Você se questiona, pela primeira vez no dia, no ano, na sua existência: “Ninguém me viu aqui?”
Você está a passeio, pra que se estressar com isso? Continua sorridente e curioso pelo andar de cima. O elevador demora, mas não tem problema, afinal devem ter vários outros desbravadores por ai. Já, seus colegas apertam os botões, que já estavam acesos, milhares de vezes, olhando pra cima apressados e inquietos. Você se pergunta:
“Será que o cabo de aço que guia o elevador sobe a medida que eu aperto o botão. Por exemplo, cada apertada é 30cm que o elevador sobe ou desce, portanto até ele chegar aqui eu preciso apertar quantas vezes? ...vamos ver....deve ter quantos metros?....”
Antes que você termine a conta um dos elevadores dá sinal de que chegou! Ufa, alguém já tinha feito a conta antes que você e, por meio de milhares de apertadas no botão, trouxe o elevador até você! QUE GENTIL!

Você não sabe muito bem porque, mas ainda acredita na lei dos bons modos e dá um passo pra frente como quem diz com o corpo: “Ok, pessoal, eu fui o primeiro a chegar, serei o primeiro a entrar!”. A multidão invade sua frente:
“Será que esse é o último elevador do mundo? Será que é tipo o portal da caverna do dragão que levará todos pra bem longe da grande onda que destruirá o mundo agora em 2012?”.
 Que ideia maluca!!! Não faz o menor sentido isso, mas a forma com que todos estão se comportando ao seu redor dá um sentido especial a essa loucura! E pior: se for isso mesmo, você acaba de ser excluído pro final da fila e talvez nem tenha espaço no elevador, ou seja: se f%$#¨*!

De repente, não mais que de repente...um impasse incrível acontece. Há pessoas dentro do elevador que acabou de chegar e veja bem que surpresa: ELAS PRECISAM SAIR! Sim, você já sabia disso, mas seus colegas de salvamento não! Ou sabiam...
Começa o ballet mais desengonçado que você já assistiu: uma tia tentando sair do elevador enquanto outra a empurra pra dentro porque ela quer entrar. Mentes opostas se encontrando com um único alerta na mente piscado em neon: EU PRECISO ENTRAR e outros EU PRECISO SAIR.
O que os desesperados não entendem é que para uns entrarem, outros precisam sair, e NECESSARIAMENTE na ordem correta!
Nessa hora você lembra daquela entrevista de emprego que o avaliador lhe disse que deveria explorar mais seu espírito de liderança e pensa em fazer o seguinte:

“Ok, ok pessoal! Estamos todos passando por um momento muito complexo aqui! Temos ideias divergentes e precisamos resolver! Prestem atenção no comando. Os indivíduos A, os que estão fora do elevador, vão dar exatamente 5 passos para trás! Assim feito, os indivíduos B sairão um de cada vez do elevador. Ei você, careca! Você terá um papel importantíssimo, irá segurar a porta para que não feche por acidente em ninguém. Assim que a equipe B tiver evacuado o elevador, a equipe A pode entrar um de cada vez. O careca fica por último pra garantir a porta.”

            Mas, esse discurso parece meio “Titanic”, você quase se confunde quando diz: “todos entrarão no bote, calma!”...então desiste e não diz nada. Só observa.

            Como num jogo de futebol americano as pessoas vão entrando e saindo do elevador, no estilo salve-se quem puder. Talvez até tenham pessoas la dentro que seja a segunda ou terceira tentativa...
“Olá, você está indo pra qual andar?”
“Não, não, eu estou tentando sair há horas, mas o meu oponente é sempre maior e mais forte que eu. Quem sabe na próxima parada pego uma criança, vai da sorte de cada um!”

            A saga parece interminável, não? E É! Mas calma, você entrou!!! Incrivelmente esperou todos os jogadores se matarem e conseguiu um espaço.

Depois de toda essa vivência, já se sente íntimo daquelas pessoas. Tipo no Lost que no embarque ninguém se olhava nem se percebia, mas depois de toda aquela tragédia eles eram como uma família. Nesse espírito quase natalino você diz:

“Boa tarde!”
...... (vácuo) – ninguém responde. O máximo foi um olhar de uma criancinha que pensou: “ele falou alguma coisa?”

            Depois de uma dúvida existencial, a segunda é sempre mais intensa. Tudo que você temia pode estar acontecendo agora. Aqueles livros e filmes espíritas fazem sentido: VOCÊ SÓ PODE TER DESENCARNADO E NÃO SABE!
            Ta se achando o Bruce Willis no "Sexto Sentido", tentando juntar peça por peça do quebra-cabeça pra ver se lembra de algum contato humano na últimas horas, alguém encarnado que não seja o Chico Xavier que tenha conversado com você. Puts, nem o Chico Xavier não conta...até ele já desencarnou!
            Sua mente começa a se lamentar por não ter conseguido falar pra sua mãe que a ama e, antes de pensar em quem estará no seu velório, você percebe que está vivo! SIM, ESTÁ VIVO! Afinal todas aquelas pessoas que estão dentro do elevador com você começam a te empurrar pra fora! Chegou o seu andar e se você fosse um espírito todas elas passariam por você, lembra do “Ghost”???
É ISSO, VOCÊ NÃO MORREU, SÓ FOI IGNORADO!

            Agora pode continuar seu passeio pelo shopping...assim que passar pela barreira das pessoas que querem entrar no elevador que você está saindo, obvio.
            Bom passeio!

18 de abril de 2012

Descobri!!!


             A Mara, moça que ajuda na limpeza aqui de casa semanalmente, é uma das maiores responsáveis pelo aumento no repertório do meu vocabulário cearense.
            Sem dúvida, se 90% das expressões que ela fala não estivessem inseridas num contexto eu não entenderia nada! Ainda bem que sou uma boa ouvinte e capto tudo, mesmo que em outra língua.
            Entre “ouvido de mercador” e outras mais, a minha preferida é “rrumação”. Faço questão de iniciar esta expressão com dois “r” porque é a forma com que se pronuncia a palavra. Vou inserir no contexto pra vocês entenderem:
“- Estava no salão de beleza e a cabeleireira me perguntou: -É verdade que tu ta namorando o porteiro?. Daí eu disse: - Que rrumação é essa?? Eu namorando o porteiro? Não! Não!”

            Entenderam? Não sei exatamente qual expressão sulista se encaixa a essa, mas deu pra entender, não???
            Eu a-do-ro quando a Mara fala isso, porque é tão espontâneo e regional. Muito engraçado. Toda semana tem uma “rrumação” que aprontaram com ela e eu me divirto antes mesmo dela contar qual é.
           
             Mas esta semana que passou a Mara me apresentou a uma expressão que eu não conhecia, mas não por ser da cultura nordestina e sim por ser católica. E olha, isso mudou minha vida, não to brincando!

            Enquanto falava sobre uma parente que não gostava ela chamava a fulana de “abençoada”. Pra mim parecia muito incoerente, afinal eu já estava ficando confusa: a tal fulana é uma chata ou uma abençoada? Não aguentei e perguntei:

“-Mara, não to entendendo mais nada, essa mulher é abençoada ou não?”

Como uma católica fervorosa que é, ela me responde:
“- Dona Silvia, quando a pessoa é assim...assim...”

Interrompi porque a palavra não saía daquela boca santa, algum pecador tinha que dizê-la:
“-Quando a pessoa é chata, ruim, maldosa, isso?”

Aliviada a Madre Teresa continuou:
“-Isso! Quando a pessoa é assim a gente chama de abençoada pra não falar outra coisa!”.

            Neste momento veio aquela coisa que os tais psicólogos chamam de insight.
“-Agora entendi! Entendi tudo!”

            Me lembrei imediatamente, e minha mãe também vai lembrar, de uma doméstica que trabalhava la em Caxias quando eu e meu irmão éramos pequenos. Ela sempre me chamava de abençoada. Eu e meu irmão esperávamos a mãe e o pai irem trabalhar pra infernizar a vida dessa pobre. Descobrimos por acaso o pavor de lesma que ela tinha, bem como descobrimos o quanto uma "geleca" era parecida com uma lesma. Só me lembro que ela virava uma espécie de tiro ao alvo minha e do meu irmão, coitada!

      A ignorância é uma bênção! Eu preferia continuar acreditando que essa mulher era tão evoluída espiritualmente, mas tão evoluída, que conseguia ver em mim uma criança ABENÇOADA acima de qualquer tiro ao alvo. Mas NÃO! Ela tava era querendo me xingar, mas Jesus não deixava!

            Não me lembro do nome dela, mas Fulana, eu te autorizo! Eu merecia mesmo, pode me xingar mentalmente agora que eu “guento”! hahahaha

23 de março de 2012

Pronto o quê?

Uma das maiores dificuldades na mudança de cultura é a língua. Isso que eu não estou falando de um brasileiro na Europa ou um japonês no Brasil, estou falando em uma sulista no nordeste (e vice versa). 

Um dia me peguei na lavanderia de casa tentando entender o que o vizinho conversava com seu irmão. Não estava bisbilhotando, não. Estava apenas treinando o meu nordestinês. Mas não adiantou...por mais que eu tentasse erguer as orelhas como a minha vira-lata faz quando escuta um barulho, eu não conseguia. Não conseguia nem levantar as orelhas, nem entender alguma palavra.

É bem verdade que aqui as pessoas são mais lentas, mas na hora de falar não são meeesmo! Aliás, até são, mas num momento bem específico. Eu batizei este momento, para conseguir explicar pra quem nunca esteve aqui, de stand by
Sabe? Aquele termo que a gente usa quando um aparelho eletrônico entra em modo de espera! Pois então, normalmente as pessoas daqui entram em stand by quando você faz uma pergunta. Eu imagino que seja pra tentar compreender o que eu falei, traduzir o meu sotaque ou sei la. Sei que no começo neste momento de silêncio eu pensava: "Será que essa pessoa me escutou?", "Será que entendeu?", "Será que eu desencarnei e nem percebi?"...Até compreender bem que este é o tempo que a pessoa precisa para dar continuidade a conversa. (Já consultei outros gaúchos moradores daqui e garanto, essa impressão não é só minha!)

Num papo com o veterinário dos meus cachorros, que é cearense, mas fez seus últimos estágios na Universidade de Santa Maria no RS, descobri algumas coisas a respeito da linguagem:

Eu: "A Sara é muito fiasquenta, ela vem chorando de casa até aqui porque sabe que vai tomar injeção!"
Ele: Stand by..."Fiasquenta...essa é uma palavra bem do sul!"
Eu: "Não sei, é?"
Ele: "Quando cheguei la, nas primeiras duas semanas as pessoas me perguntavam se eu não falava. Expliquei que estava tentando antes entender o que ELAS estavam falando! E tem o tal de "feito" que vocês falam."
Eu: "Feito? Como assim?"
Ele: "Sim, "feito". Por exemplo, alguém me dá uma carona e quando chega na frente da minha casa me olha e diz: "Feito!?"
Eu ri muito e concordei com a cabeça.
Ele: "Eu pensava: 'Feito o que? O que foi feito?"
A gaúcha mordida aqui responde: "Mas vocês tem o "pronto". Por exemplo, vou numa loja e pergunto a vendedora se ela tem aquela calça só que na cor preta e ela diz: "Pronto" e vai buscar. Ou informo meu vizinho da data da reunião do condomínio e ele responde: 'Pronto'. Mas não tem nada pronto, o que ta pronto?"

Fomos obrigados a rir um do outro tentando defender sua língua materna (digamos assim) e, pior ainda, tentando entender a língua do outro.

Essa tarefa vai longe, viu...
Pode deixar que eu vou mantendo todos informados! Feito? (hihihihi)

9 de março de 2012

Um eletricista, pelo amor de Deus!!!!

     A viagem de volta (Tubarão - Itajaí) me fez lembrar que tem uma história faltando neste blog. Ta bom, ta bom...existem milhões de histórias faltando, porque cada dia é uma tragicomédia aqui. Mas, essa eu preciso registrar, pelo menos em homenagem à minha amiga Karol que ficou rindo da minha desgraça! hahaha

     Como eu já disse, chuveiro elétrico aqui é algo de outro mundo. Mesmo nas lojas especializadas você não encontra uma diversidade de modelos suficiente pra te fazer ficar parado na prateleira escolhendo qual levar. E quando você fala para o atendente que está procurando por um, ele te olha de cima a baixo e, se eu lesse pensamento, ele estaria pensando: "Bem se vê que essa não é daqui!".

    Com o chuveiro em mãos chamamos o Sr. Edson, o eletricista (?) que a imobiliária mandou para instalar as lâmpadas. Na última vez que ele veio confessou que o Sr. G (lembra do post do Sr G de Grito??) não lhe paga nem os parafusos pra que ele faça o serviço. Fiquei morta de pena e resolvi chamá-lo para instalar o chuveiro, dando uma força pro seu trabalho.
     Confesso que me divirto muito com ele. Bom, deixa eu descrever essa figura pra vocês entenderem.
    Chega num fusca emprestado e nunca traz escada, parecendo desconhecer seu um metro e meio, no máááximo, (diz o Thiago que ele é menor que a minha sogra! hihi). Vem ele com sua maleta de ferramentas, vestindo camisa, calça e sapato, como quem vai a uma festa. Cada pouco ele desce da escada emprestada e tira da sua maleta um desodorante estilo "Très Marchand", preocupado com o possível suor. Depois de algumas horas de trabalho, ele tira da maleta, que mais parece a bolsa da Mary Poppins de tanta coisa que sai la de dentro, um óculos tipo fundo de garrafa. Imaginem o meu espanto em perceber que o “homi” passou todo esse tempo trabalhando sem as lentes!
“Sr. Edson, pelo amor de Deus, que óculos é esse?”
“Não, Dona Silvia, esse óculos é só pra usar de vez em quando!”
“Sr. Edson, sem esse óculos o senhor não enxerga nem a sua mulher, pelo amor de Deus!”
            Ainda negando sua miopia, astigmatismo, hipermetropia e qualquer outra coisa que deve ter, ele tira o óculo e me alcança o chuveiro em pedaços saído de dentro da caixa:
“Dona Silvia, monte aí!”
“O senhor ta doido, Sr. Edson? Eu lá sei montar chuveiro?”
“Ah, veja aí como se faz e me alcance!” – pra não dizer que ELE também não sabe, ou não enxerga o suficiente.
            Eu não sei se é só a falta do óculos, mas esse comportamento do Sr. Edson mostra que ele pode ser o único exemplar sem machismo já encontrado por mim. Afinal de contas, “deixar uma mulher” montar o chuveiro é uma prova e tanto!
            Entre tentativas e erros eu consigo montar o quebra-cabeça chuveirístico. Chego a me perguntar quem é mais eletricista: eu ou ele? Principalmente quando ele me olha e pergunta: “Esse fio deve ser aqui, não é?”. A segurança que ele passa faz com que eu repita a cada vez que ele me pede pra ligar o disjuntor:
“NÃO VAI LEVAR CHOQUE AI, POR FAVOR!”
O final dessa história não podia ser diferente, o chuveiro não foi instalado.
Chuveiro versus Sr. Edson =  Chuveiro WINS!
Com esse desfecho, me obrigo a chamar um eletricista que cobra R$60 para consertar o erro alheio, que provavelmente não virá de fusca, trará sua própria escada, não terá 500 graus de miopia, não estará perfumado e nem me perguntará em qual fio ligar... Agora me digam:
“Que coisa mais sem graça, não???!!!!”

9 de janeiro de 2012

Praia do Cumbuco

    Este domingo fomos descansar na Praia do Cumbuco. Quero deixar aqui as dicas pra quem tem interesse em fazer essa visita.

    A praia fica a 35km de Fortaleza, pra quem fica sem carro, tem ônibus por R$5 que pega a galera na beira mar. O visual é maravilhoso, daqueles de cinema. Aos sulistas como eu, acostumados às paisagens restritas ao redor da praia, fica marcada a imensidão das dunas de areia, os coqueiros por todos os lados e aquele mar verde de poucas ondas que não tem fim.
    Sem falar na diversão (e às vezes até pena) que sentimos ao ver uma verdadeira fashion week de jegues. Isso mesmo! Este final de semana encontramos um “estilo dálmata” (sim, seu dono fez várias pintinhas pretas no seu pêlo) e outro com uma cela de arrasar: rosa com estampa de oncinha.
   Os famosos passeios de buggy não podem faltar. Você pode escolher "com" ou "sem emoção". O importante é procurar os bugueiros credenciados, que possuem verdadeira experiência e segurança para que o passeio seja divertido na medida certa. Mas não dá pra negar que a grande atração do lugar é o kitesurf, esporte feito numa prancha parecida com a do windsurf tracionada por um parapente. O uso do parapente proporciona muitas possibilidades de manobras e saltos, que normalmente não são possíveis em outros esportes de manobras como wakeboarding e snowboarding. Misturado com o verde mar há o vermelho, o amarelo, o azul e o laranja da variedade dos parapentes. Claro que o meu marido, que tem o espírito radical que eu não tenho, já se interessou. E eu fico imaginando as fotos lindas que podem sair dessa aventura.
    Pra quem não é tão aventureiro assim, fica a dica do passeio de jangada que também dizem ser muito divertido e bonito. Para os mais tranquilos ainda, fica a dica do momento: alugar um almofadão e se jogar na sombra, aproveitando a paisagem e colocando as idéias em ordem.
    Fomos parar na mesma barraca que fiquei com meu irmão e minha mãe quando era turista: Velas do Cumbuco. Tem uma estrutura legal de restaurante, banheiros e piscinas adulto e infantil. A minha recomendação como visitante é que levem na mochila, além do habitual, papel higiênico, sabonete e protetor para painel do carro. Como todo local onde há muitas pessoas, os banheiros geralmente apresentam a falta desses 2 primeiros ítens importantes e o estacionamento nem sempre tem sombra pra todos. E te digo uma coisa: você realmente não vai querer fritar dentro do carro depois de um dia especial na praia!
    Fica aí a dica aos futuros visitantes.
    Conforme for visitando as demais praias, vou escrevendo para vocês!  

3 de janeiro de 2012

Esmola


            Recebemos uma penca de conselhos de amigos e familiares quando decidimos vir pra cá. Entre muitas dicas importantes, uma delas era que aqui encontraríamos mais pessoas nas ruas pedindo esmola do que estávamos acostumados. Claro, no RS é difícil porque é muito frio e em SC, principalmente em BC que é uma cidade turística de classe mais alta, os mendigos devem ser (imagino) convidados a se retirar para não ofuscar a paisagem dos veranistas da Avenida Atlântica, enfim...
            Quem é de BC conhece a Dona Inês. Talvez não pelo nome, mas é uma senhora baixinha, cabelinho branco, sempre vestida com a roupa de “Agente Ambiental” cedido pela prefeitura àqueles que catam pelas ruas latinhas, garrafas PET e papelão. Não tinha um dia sequer que eu não a encontrasse pelas ruas. Morava próximo ao prédio que nós morávamos e eu a via de manhã cedo saindo com um saco vazio, boné e seu chinelinho. Às vezes, íamos caminhar ou jantar e lá estava ela, 22h ou 23h ainda trabalhando.
            Ela ia passando pelas lixeiras que ficam ao lado dos bancos da Avenida Atlântica (beira mar) cumprimentando quem estivesse por lá com um “Bom dia! Boa tarde! Boa noite!” antes de enfiar sua mão calejada dentro daquela caixa de surpresas. Tirava de lá sempre uma latinha no mínimo, e assim ia enchendo suas sacolas, levando pra casa e voltando para coletar mais.
            Um dia não aguentei, parei pra conversar. Apresentei-me e pedi o nome dela. Com um sorriso no rosto e sem parar de catar o lixo ela me contou um pouco da sua história. Sensibilizada, convoquei alguns amigos e enchemos uma caixa grande de alimentos e coisas úteis para presenteá-la. No dia em que fomos entregar, ela não estava em casa, conversamos com o vizinho e nos surpreendemos. Ao contrário do que imaginávamos, a Dona Inês não era tão pobre. Tinha casa própria, metade de alvenaria e metade de madeira. O vizinho explicou que pra conseguir seu dinheirinho ela aluga uma parte da casa e na outra mora sozinha, que sai todos os dias sem falta para catar latinhas e que é muito querida por todos.
            Claro que isso não era motivo pra desistirmos da doação, mas era pra que eu ficasse pensando o que levava uma senhora com a idade dela ficar sol a sol catando latinhas, já que pelo que sei, o preço que pagam não é “grandes coisas”. Com certeza é muito menos do que ela recebe com o aluguel de uma parte da casa. Não perguntei o porquê a ela, já que isso nem é da minha conta e poderia soar de maneira estranha. Mas, imagino que seja não apenas pelo dinheiro que consegue na venda, mas pelo fato de estar trabalhando, ativa, numa rotina que a mantém com a pele queimada do sol, o rosto suado de calor, mas a mente limpa e saudável.
            Passei a admirar ainda mais aquela senhora e toda vez que a vejo penso o quanto ignorante eu sou com minhas reclamações de cansaço e estresse. Um dia fui comprar flores para colocar no nosso apartamento e encontrei a Dona Inês. Com um casaco de crochê azul celeste e sem boné. Ela me reconheceu e parou para dar um “bom dia”. Eu disse que ela estava muito bonita e ela respondeu: “Estou indo para a Igreja!”. Dei uma das flores que havia comprado e recebi um abraço com cheiro de creme hidratante (vaidosa!). Continuei minha caminhada pensando novamente em como sou pequena.
            Sabendo dessa e de outras histórias que tenho sobre pessoas batalhadoras que me sensibilizam, meus amigos me alertavam sobre minha vinda para o Ceará: “Se você já se emociona assim aqui, lá você vai doar até as calças no meio da rua!”. Realmente a pobreza aqui é mais evidente e aquele aperto no coração que sentia às vezes em SC se faz presente todos os dias. Preciso aprender e exercitar o “não” em algumas situações. Não são em todos os sinais que posso contribuir com àqueles que limpam o pára-brisa, nem em todos os lugares que estaciono àqueles que colocam um pedaço de papelão para o sol não maltratar o painel do carro,... Mas não é fácil.
            Aqui as coisas se misturam e a mesma pessoa que vende jornais no sinal, quando você faz gestos de que não tem interesse em comprar, ela tira do bolso uma caixinha que diz: “Ajude no meu Natal!”. A mesma pessoa que trabalha, pede esmola.
            Numa das nossas caminhadas pela beira mar de Fortaleza, enquanto íamos comprar um sorvete no Mc Donalds, um menino estendeu a mão e falou alguma coisa, que dificilmente eu consigo entender (pelo sotaque e pela voz arrastada de quem pede ajuda). Eu disse o famoso e que me corta a alma: “Não tenho nada aqui!”, tentando ser gentil, mas sem olhar nos olhos dele pra não me derreter. Ele disse: “Mas eu não quero dinheiro, tia. Quer só um lanche!”. Daí foi inevitável, UM LANCHE! Poh! Pensei: “Poxa, o menino passa o dia aqui pedindo esmola, vendo as pessoas saindo com sorvete e hambúrguer, ele também merece um, neh! Compramos dois sanduíches do Mc e quando fomos entregar ele sorriu e agradeceu. Aí aquela sensação de ter feito algo de bom nos invadiu. Atravessamos a rua e tive uma má impressão quando vi um cara mais velho atravessando ao mesmo tempo que nós só que na direção contrária. Um pouco depois eu olho pra trás, o menino olha pra mim e dá risada. Eu vejo que o pacote não está mais nas suas mãos e sim indo embora nas mãos do cara que atravessou a rua antes. Aí acho que eu e o menino pensamos a mesma coisa a meu respeito: “Idiota!”
Como eu fui burra! O menino riu na (e da) minha cara. Eu era mais uma turista burra, enganada e sensibilizada pelo menino bonitinho e pobre, usado como laranja pra um cara mais velho e sem dignidade.
            A sensação de caridade foi completamente destruída pela raiva de ter sido enganada. E viva a Cássia Eller:

“Eu só peço a Deus
Um pouco de malandragem
Pois sou criança
E não conheço a verdade
Eu sou poeta
E não aprendi a amar...”

            Por essas e outras creio que o melhor a fazer mesmo é se engajar em projetos voluntários, fazer doações diretamente nas instituições, etc. Por outro lado, sabe-se que este tipo direcionado de doação não abrange as pessoas que estão nas calçadas pedindo ajuda...e será que deveria?

Pra encerrar, um pedacinho de outra música da Cássia Eller que eu acho muito divertida, “Partido Alto”:
“Deus me deu mãos de veludo
Prá fazer carícia
Deus me deu muitas saudades
E muita preguiça
Deus me deu pernas compridas
E muita malícia
Pra correr atrás de bola
E fugir da polícia
Um dia ainda sou notícia”

2 de janeiro de 2012

Calooooorrr


         Você não sabe exatamente qual o momento certo de colocar seus cachorros no ar condicionado ou deixá-los curtindo a sombra do quintal. Até que seu labrador deita esparramado no chão da cozinha, se estica para alcançar o pote de água, como se fosse um perdido no Saara enxergando um oasis, e toma água ali, deitado mesmo. Aí é a hora de subir e ligar o ar, você tem CERTEZA agora!

A Sara tem exercitado suas posições de...sei la...Yoga Canino, talvez. Ela passa o dia de barriga pra cima, revezando entre o canto da sala de jantar, a despensa e o canto ao lado do fogão. Ela, ao contrário do Eros e de mim, não é fã do ar condicionado e está pegando mais sol do que eu. Aliás, engana-se quem acha que a minha brancura está mais amena. Gente, não há condições biopsicossociais de encarar um banho de sol, acreditem!

         O calor que faz em Fortaleza às 12h em ponto é algo excepcional. Dizem que as cidades do interior possuem a mesma temperatura, mas não a mesma brisa. Mal consigo imaginar como o pessoal consegue fazer suas atividades do dia a dia por lá. Sem dúvida, o que salva a minha pele é que não há um só dia sem que o vento apareça (e o ar condicionado, e o protetor solar...).

         Outra curiosidade, é que chuveiro elétrico aqui é artigo de luxo. Ninguém tem pelo simples fato dele não ter a mesma serventia que tem no sul. Aquecimento a gás então, provoca a mesma reação nos nativos que você perguntar onde vendem estufas por aqui. Desnecessário, ainda bem!
        
Embora um chuveiro com água em temperatura ambiente seja muito bem vindo neste calor, temos nossas estratégias. Um banho logo de manhã cedo (após horas no ar condicionado) ou antes de dormir (quando a temperatura já está mais amena), não é tão simples assim. É preciso se acostumar, como se faz nas praias do sul antes de entrar no mar. Molham-se os pés, com as mãos leva-se a água nas pernas, na barriga (bbbrrrrrrrruuuuuu) e nas costas. Por outro lado, depois de um dia de correria, daqueles que sua roupa está colada em seu corpo e seus cabelos amarrados porque você não suportou a possibilidade deles encostarem em suas costas com toda essa “quentura”, é ótimo. Mas veja bem, como a expressão mesmo diz, a temperatura da água é como a do ambiente. Tente ligar o chuveiro ou a mangueira por voltar das 15h da tarde: a água está mais quente do que se você tivesse um chuveiro elétrico.
        
Ah a piscina do condomínio! Como seria bom tê-la. Mas infelizmente a manutenção não está acontecendo com a periodicidade combinada na reunião. Enquanto isso é bom se contentar com um banho de mangueira (mas não às 15h da tarde! Hihihi).