10 de agosto de 2012

ELEVADOR


            Existem atividades que geram diversos sentimentos ao mesmo tempo por aqui. O transito, como já disse, desenvolve o sentimento de raiva ao mesmo tempo desperta o instinto de sobrevivência. Mas, na minha opinião, a mais intensa é TENTAR ENTRAR NUM ELEVADOR.
            Vamos lá, você está no shopping, passeando, vendo vitrines e se divertindo. De repente, o andar se esgota e você pensa:
“Vou pegar o elevador e desbravar as lojas do piso superior!”.
Aaaaah, péssima ideia! Essa eterna insatisfação do ser humano...o velho “querer mais”. Não podia ficar só num andar, não?!

Continuando...
Você se aproxima do elevador e antes mesmo que sua visão periférica (que o oftamologista jura estar ok) pudesse perceber, chega uma galera que, pela lei dos bons modos deveria ficar atrás de você. Mas não, estão todos na sua frente, até te empurram pra trás com os ombros! Eles apertam o botão antes do seu dedo chegar lá, e não apertam um só, apertam todos (sobe, desce...se tivesse pro lado e pro outro, eles apertariam também!). Você se questiona, pela primeira vez no dia, no ano, na sua existência: “Ninguém me viu aqui?”
Você está a passeio, pra que se estressar com isso? Continua sorridente e curioso pelo andar de cima. O elevador demora, mas não tem problema, afinal devem ter vários outros desbravadores por ai. Já, seus colegas apertam os botões, que já estavam acesos, milhares de vezes, olhando pra cima apressados e inquietos. Você se pergunta:
“Será que o cabo de aço que guia o elevador sobe a medida que eu aperto o botão. Por exemplo, cada apertada é 30cm que o elevador sobe ou desce, portanto até ele chegar aqui eu preciso apertar quantas vezes? ...vamos ver....deve ter quantos metros?....”
Antes que você termine a conta um dos elevadores dá sinal de que chegou! Ufa, alguém já tinha feito a conta antes que você e, por meio de milhares de apertadas no botão, trouxe o elevador até você! QUE GENTIL!

Você não sabe muito bem porque, mas ainda acredita na lei dos bons modos e dá um passo pra frente como quem diz com o corpo: “Ok, pessoal, eu fui o primeiro a chegar, serei o primeiro a entrar!”. A multidão invade sua frente:
“Será que esse é o último elevador do mundo? Será que é tipo o portal da caverna do dragão que levará todos pra bem longe da grande onda que destruirá o mundo agora em 2012?”.
 Que ideia maluca!!! Não faz o menor sentido isso, mas a forma com que todos estão se comportando ao seu redor dá um sentido especial a essa loucura! E pior: se for isso mesmo, você acaba de ser excluído pro final da fila e talvez nem tenha espaço no elevador, ou seja: se f%$#¨*!

De repente, não mais que de repente...um impasse incrível acontece. Há pessoas dentro do elevador que acabou de chegar e veja bem que surpresa: ELAS PRECISAM SAIR! Sim, você já sabia disso, mas seus colegas de salvamento não! Ou sabiam...
Começa o ballet mais desengonçado que você já assistiu: uma tia tentando sair do elevador enquanto outra a empurra pra dentro porque ela quer entrar. Mentes opostas se encontrando com um único alerta na mente piscado em neon: EU PRECISO ENTRAR e outros EU PRECISO SAIR.
O que os desesperados não entendem é que para uns entrarem, outros precisam sair, e NECESSARIAMENTE na ordem correta!
Nessa hora você lembra daquela entrevista de emprego que o avaliador lhe disse que deveria explorar mais seu espírito de liderança e pensa em fazer o seguinte:

“Ok, ok pessoal! Estamos todos passando por um momento muito complexo aqui! Temos ideias divergentes e precisamos resolver! Prestem atenção no comando. Os indivíduos A, os que estão fora do elevador, vão dar exatamente 5 passos para trás! Assim feito, os indivíduos B sairão um de cada vez do elevador. Ei você, careca! Você terá um papel importantíssimo, irá segurar a porta para que não feche por acidente em ninguém. Assim que a equipe B tiver evacuado o elevador, a equipe A pode entrar um de cada vez. O careca fica por último pra garantir a porta.”

            Mas, esse discurso parece meio “Titanic”, você quase se confunde quando diz: “todos entrarão no bote, calma!”...então desiste e não diz nada. Só observa.

            Como num jogo de futebol americano as pessoas vão entrando e saindo do elevador, no estilo salve-se quem puder. Talvez até tenham pessoas la dentro que seja a segunda ou terceira tentativa...
“Olá, você está indo pra qual andar?”
“Não, não, eu estou tentando sair há horas, mas o meu oponente é sempre maior e mais forte que eu. Quem sabe na próxima parada pego uma criança, vai da sorte de cada um!”

            A saga parece interminável, não? E É! Mas calma, você entrou!!! Incrivelmente esperou todos os jogadores se matarem e conseguiu um espaço.

Depois de toda essa vivência, já se sente íntimo daquelas pessoas. Tipo no Lost que no embarque ninguém se olhava nem se percebia, mas depois de toda aquela tragédia eles eram como uma família. Nesse espírito quase natalino você diz:

“Boa tarde!”
...... (vácuo) – ninguém responde. O máximo foi um olhar de uma criancinha que pensou: “ele falou alguma coisa?”

            Depois de uma dúvida existencial, a segunda é sempre mais intensa. Tudo que você temia pode estar acontecendo agora. Aqueles livros e filmes espíritas fazem sentido: VOCÊ SÓ PODE TER DESENCARNADO E NÃO SABE!
            Ta se achando o Bruce Willis no "Sexto Sentido", tentando juntar peça por peça do quebra-cabeça pra ver se lembra de algum contato humano na últimas horas, alguém encarnado que não seja o Chico Xavier que tenha conversado com você. Puts, nem o Chico Xavier não conta...até ele já desencarnou!
            Sua mente começa a se lamentar por não ter conseguido falar pra sua mãe que a ama e, antes de pensar em quem estará no seu velório, você percebe que está vivo! SIM, ESTÁ VIVO! Afinal todas aquelas pessoas que estão dentro do elevador com você começam a te empurrar pra fora! Chegou o seu andar e se você fosse um espírito todas elas passariam por você, lembra do “Ghost”???
É ISSO, VOCÊ NÃO MORREU, SÓ FOI IGNORADO!

            Agora pode continuar seu passeio pelo shopping...assim que passar pela barreira das pessoas que querem entrar no elevador que você está saindo, obvio.
            Bom passeio!