23 de março de 2012

Pronto o quê?

Uma das maiores dificuldades na mudança de cultura é a língua. Isso que eu não estou falando de um brasileiro na Europa ou um japonês no Brasil, estou falando em uma sulista no nordeste (e vice versa). 

Um dia me peguei na lavanderia de casa tentando entender o que o vizinho conversava com seu irmão. Não estava bisbilhotando, não. Estava apenas treinando o meu nordestinês. Mas não adiantou...por mais que eu tentasse erguer as orelhas como a minha vira-lata faz quando escuta um barulho, eu não conseguia. Não conseguia nem levantar as orelhas, nem entender alguma palavra.

É bem verdade que aqui as pessoas são mais lentas, mas na hora de falar não são meeesmo! Aliás, até são, mas num momento bem específico. Eu batizei este momento, para conseguir explicar pra quem nunca esteve aqui, de stand by
Sabe? Aquele termo que a gente usa quando um aparelho eletrônico entra em modo de espera! Pois então, normalmente as pessoas daqui entram em stand by quando você faz uma pergunta. Eu imagino que seja pra tentar compreender o que eu falei, traduzir o meu sotaque ou sei la. Sei que no começo neste momento de silêncio eu pensava: "Será que essa pessoa me escutou?", "Será que entendeu?", "Será que eu desencarnei e nem percebi?"...Até compreender bem que este é o tempo que a pessoa precisa para dar continuidade a conversa. (Já consultei outros gaúchos moradores daqui e garanto, essa impressão não é só minha!)

Num papo com o veterinário dos meus cachorros, que é cearense, mas fez seus últimos estágios na Universidade de Santa Maria no RS, descobri algumas coisas a respeito da linguagem:

Eu: "A Sara é muito fiasquenta, ela vem chorando de casa até aqui porque sabe que vai tomar injeção!"
Ele: Stand by..."Fiasquenta...essa é uma palavra bem do sul!"
Eu: "Não sei, é?"
Ele: "Quando cheguei la, nas primeiras duas semanas as pessoas me perguntavam se eu não falava. Expliquei que estava tentando antes entender o que ELAS estavam falando! E tem o tal de "feito" que vocês falam."
Eu: "Feito? Como assim?"
Ele: "Sim, "feito". Por exemplo, alguém me dá uma carona e quando chega na frente da minha casa me olha e diz: "Feito!?"
Eu ri muito e concordei com a cabeça.
Ele: "Eu pensava: 'Feito o que? O que foi feito?"
A gaúcha mordida aqui responde: "Mas vocês tem o "pronto". Por exemplo, vou numa loja e pergunto a vendedora se ela tem aquela calça só que na cor preta e ela diz: "Pronto" e vai buscar. Ou informo meu vizinho da data da reunião do condomínio e ele responde: 'Pronto'. Mas não tem nada pronto, o que ta pronto?"

Fomos obrigados a rir um do outro tentando defender sua língua materna (digamos assim) e, pior ainda, tentando entender a língua do outro.

Essa tarefa vai longe, viu...
Pode deixar que eu vou mantendo todos informados! Feito? (hihihihi)

9 de março de 2012

Um eletricista, pelo amor de Deus!!!!

     A viagem de volta (Tubarão - Itajaí) me fez lembrar que tem uma história faltando neste blog. Ta bom, ta bom...existem milhões de histórias faltando, porque cada dia é uma tragicomédia aqui. Mas, essa eu preciso registrar, pelo menos em homenagem à minha amiga Karol que ficou rindo da minha desgraça! hahaha

     Como eu já disse, chuveiro elétrico aqui é algo de outro mundo. Mesmo nas lojas especializadas você não encontra uma diversidade de modelos suficiente pra te fazer ficar parado na prateleira escolhendo qual levar. E quando você fala para o atendente que está procurando por um, ele te olha de cima a baixo e, se eu lesse pensamento, ele estaria pensando: "Bem se vê que essa não é daqui!".

    Com o chuveiro em mãos chamamos o Sr. Edson, o eletricista (?) que a imobiliária mandou para instalar as lâmpadas. Na última vez que ele veio confessou que o Sr. G (lembra do post do Sr G de Grito??) não lhe paga nem os parafusos pra que ele faça o serviço. Fiquei morta de pena e resolvi chamá-lo para instalar o chuveiro, dando uma força pro seu trabalho.
     Confesso que me divirto muito com ele. Bom, deixa eu descrever essa figura pra vocês entenderem.
    Chega num fusca emprestado e nunca traz escada, parecendo desconhecer seu um metro e meio, no máááximo, (diz o Thiago que ele é menor que a minha sogra! hihi). Vem ele com sua maleta de ferramentas, vestindo camisa, calça e sapato, como quem vai a uma festa. Cada pouco ele desce da escada emprestada e tira da sua maleta um desodorante estilo "Très Marchand", preocupado com o possível suor. Depois de algumas horas de trabalho, ele tira da maleta, que mais parece a bolsa da Mary Poppins de tanta coisa que sai la de dentro, um óculos tipo fundo de garrafa. Imaginem o meu espanto em perceber que o “homi” passou todo esse tempo trabalhando sem as lentes!
“Sr. Edson, pelo amor de Deus, que óculos é esse?”
“Não, Dona Silvia, esse óculos é só pra usar de vez em quando!”
“Sr. Edson, sem esse óculos o senhor não enxerga nem a sua mulher, pelo amor de Deus!”
            Ainda negando sua miopia, astigmatismo, hipermetropia e qualquer outra coisa que deve ter, ele tira o óculo e me alcança o chuveiro em pedaços saído de dentro da caixa:
“Dona Silvia, monte aí!”
“O senhor ta doido, Sr. Edson? Eu lá sei montar chuveiro?”
“Ah, veja aí como se faz e me alcance!” – pra não dizer que ELE também não sabe, ou não enxerga o suficiente.
            Eu não sei se é só a falta do óculos, mas esse comportamento do Sr. Edson mostra que ele pode ser o único exemplar sem machismo já encontrado por mim. Afinal de contas, “deixar uma mulher” montar o chuveiro é uma prova e tanto!
            Entre tentativas e erros eu consigo montar o quebra-cabeça chuveirístico. Chego a me perguntar quem é mais eletricista: eu ou ele? Principalmente quando ele me olha e pergunta: “Esse fio deve ser aqui, não é?”. A segurança que ele passa faz com que eu repita a cada vez que ele me pede pra ligar o disjuntor:
“NÃO VAI LEVAR CHOQUE AI, POR FAVOR!”
O final dessa história não podia ser diferente, o chuveiro não foi instalado.
Chuveiro versus Sr. Edson =  Chuveiro WINS!
Com esse desfecho, me obrigo a chamar um eletricista que cobra R$60 para consertar o erro alheio, que provavelmente não virá de fusca, trará sua própria escada, não terá 500 graus de miopia, não estará perfumado e nem me perguntará em qual fio ligar... Agora me digam:
“Que coisa mais sem graça, não???!!!!”