8 de dezembro de 2011

Palhaçando por ai...

Sinto que preciso mandar uma passagem especial só de ida para alguém que sinto falta e trará muita alegria a Fortaleza: a FLORINDA.

         Florinda é uma palhaça que criei com um nariz machucado, uma roupa de estrelas, uma pantufa (que certamente terá que ser substituída aqui neste calor – aliás, será que o nordestino sabe o que é uma pantufa??), maquiagem de palhaço e muitas flores nos cabelos.
         Unindo coisas que gosto: hospital + bom humor + psicologia, trabalhei como voluntária no projeto Terapeutas da Alegria (www.teralegria.com.br). Os cursos que fizemos de clown e as experiências foram construindo minha personagem aos poucos.

         Tivemos semanas de preparação com reuniões semanais antes de propriamente entrar nos hospitais. Enquanto isso eu me preparava não só tecnicamente, mas psicologicamente para enfrentar um ambiente hospitalar, que até mesmo pra quem gosta é pesado. Imaginava que precisaria me poupar emocionalmente durante o dia para estar 100% a noite no horário das visitas. Como depois de 8 horas de atendimentos eu poderia me doar para essas pessoas internadas em hospitais públicos? Me surpreendi!     
Durante a concentração da maquiagem, onde todos voluntários se transformavam em palhaços dos mais bizarros possíveis, as energias começavam a aparecer. Entrar cantando ao som de um violão num corredor de hospital que pede silêncio era um desafio e ao mesmo tempo tem aquele gostinho que adoro de: diferente e improvável. Aos poucos as mãos com soro pendurado abriam as portas e um sorriso aparecia como convite: “Venham aqui! Venham me ver!”.
Entre algumas caras desgostosas de poucos profissionais que não entendem o trabalho, outros felizes pela bagunça instalada. Após a cantoria nos dividíamos em duplas e entrávamos nos quartos sempre pedindo permissão.
Os que já nos conheciam contavam os dias para nossa próxima visita, mesmo que o nosso adeus viesse com a fala: “Tchau pessoal, esperamos NÃO VÊ-LOS aqui semana que vem!”.
         Na ala infantil quantos procedimentos facilitados, quantos minutos de sossego aos pais, quantos balões modelados, quantas histórias contadas...
         A equipe não ficava de fora, as enfermeiras e enfermeiros cansados após horas e até dias sem dormir recebiam uma atenção especial. 

         Quando eu subia na moto pra ir embora (e quantas vezes ainda com as flores nos cabelos sem perceber) a sensação era de renovação, parecia que eu recém tinha acordado e estava pronta pra fazer muitas e muitas coisas. Eu tinha certeza: era uma via de mão dupla, eu ajudava os pacientes a enfrentar aqueles dias solitários de dor literal e emocional e eles me ajudavam a entender que a vida é muito mais do que eu pensava.
Vontade de ajudar não faltava, o que faltou mesmo foi tempo para continuar no projeto. Infelizmente precisei sair por conta de mudanças no meu horário de trabalho.
Mas não adianta, a Florinda está em mim! Surgiu um projeto que minha amiga e colega Nutricionista Mariana nomeou “Brincando de Nutrição” numa escola infantil de BC. Na nossa primeira atuação rebolamos para manter as crianças atentas aos ensinamentos. Por mais lúdicas que pudessem ser nossas atividades, as crianças eram pequenas demais para compreender (de 1 a 6 anos). Para a segunda intervenção eu pedi: “Mari, confia em mim!”. Ela confiou e eu cheguei com um roteiro incluindo uma palhaça chamada Florinda que se alimentava muito mal e tinha comportamentos resistentes como toda criança. Florinda precisava da ajuda de uma nutricionista e de alguns amigos com urgência.
Deu muito certo, o que era pra ser apenas uma intervenção virou teatro mensal. A cada mês estávamos lá com a Florinda, que as crianças quando olhavam pra mim sem maquiagem nem desconfiavam que era eu a palhaça. Uma vez uma menina disse:

- Você é a Florinda?
- Eu? Eu não! Por que?
- Porque ela tem uma aliança dourada igual a tua!

Dava pra acreditar nesse detalhe que ela percebeu? Ela tinha no máximo 5 anos! Naquela apresentação eu tirei o anel e percebi a menina o tempo todo procurando em qual dedo estava a aliança que ela tinha certeza de ter visto em outros dias. Ao final se convenceu: realmente aquela moça não era a Florinda! Hahaha

Foram dias mágicos, apesar do cansaço de apresentar 4 ou até 5 vezes o mesmo teatro no mesmo dia, era divertidíssimo. As crianças aderiam e as professoras reforçavam: “Você não ajudou a Florinda a aprender a comer frutas? Então deve comer também!”.
Aproveito para agradecer a Mari pela confiança e trabalho lindo que fizemos juntas, a Florinda fica perdida sem você. Bem como o Unificado Kids que acreditou na nossa doideira que deu tão certo.
E com todas essas lembranças boas, como posso simplesmente deixar a Florinda na gaveta? Nem pensar! Ainda não descobri onde ela vai trabalhar, mas já estou com algumas idéias boas.
Apesar de estar na terra do humor, não são só os palcos que precisam desse santo remédio, não é mesmo? Em breve a Florinda estará trazendo alegria para locais que nem sempre este sentimento tem espaço. Aguardem!

5 comentários:

  1. Fico encantada com essa doação. Com certeza pessoas como você fazem a diferença no mundo.
    Quero muito conhecer a Florinda, de preferência fora do hospital hehe.
    Beijo querida, leve esse projeto adiante. Por mais difícil que pareça, tem sempre alguém disposto a ajudar.
    :)

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  2. Minha fiel companheira de Blog, Dani que sempre dá um apoio com os comentários.
    Só blogueiras sabem como é legal ver um comentário na sua postagem, neh!? hihihi

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  3. Amei este post!!! é simples e cheio de amor.Coloca logo esta Florinda para girar aí neste Ceará, vai ser um sucesso da porra!!! beijossss!

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  4. eieieie, sou eu, deu certo. Ops, esqueci de assinar. Beijokas Dag

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  5. E eu tenho certeza de que ela fará muito bem aos outros, mas principalmente a ela mesma.
    Te amo muito e me orgulho demais de ti.
    Beijos!!!!
    Mãe.

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