18 de abril de 2012

Descobri!!!


             A Mara, moça que ajuda na limpeza aqui de casa semanalmente, é uma das maiores responsáveis pelo aumento no repertório do meu vocabulário cearense.
            Sem dúvida, se 90% das expressões que ela fala não estivessem inseridas num contexto eu não entenderia nada! Ainda bem que sou uma boa ouvinte e capto tudo, mesmo que em outra língua.
            Entre “ouvido de mercador” e outras mais, a minha preferida é “rrumação”. Faço questão de iniciar esta expressão com dois “r” porque é a forma com que se pronuncia a palavra. Vou inserir no contexto pra vocês entenderem:
“- Estava no salão de beleza e a cabeleireira me perguntou: -É verdade que tu ta namorando o porteiro?. Daí eu disse: - Que rrumação é essa?? Eu namorando o porteiro? Não! Não!”

            Entenderam? Não sei exatamente qual expressão sulista se encaixa a essa, mas deu pra entender, não???
            Eu a-do-ro quando a Mara fala isso, porque é tão espontâneo e regional. Muito engraçado. Toda semana tem uma “rrumação” que aprontaram com ela e eu me divirto antes mesmo dela contar qual é.
           
             Mas esta semana que passou a Mara me apresentou a uma expressão que eu não conhecia, mas não por ser da cultura nordestina e sim por ser católica. E olha, isso mudou minha vida, não to brincando!

            Enquanto falava sobre uma parente que não gostava ela chamava a fulana de “abençoada”. Pra mim parecia muito incoerente, afinal eu já estava ficando confusa: a tal fulana é uma chata ou uma abençoada? Não aguentei e perguntei:

“-Mara, não to entendendo mais nada, essa mulher é abençoada ou não?”

Como uma católica fervorosa que é, ela me responde:
“- Dona Silvia, quando a pessoa é assim...assim...”

Interrompi porque a palavra não saía daquela boca santa, algum pecador tinha que dizê-la:
“-Quando a pessoa é chata, ruim, maldosa, isso?”

Aliviada a Madre Teresa continuou:
“-Isso! Quando a pessoa é assim a gente chama de abençoada pra não falar outra coisa!”.

            Neste momento veio aquela coisa que os tais psicólogos chamam de insight.
“-Agora entendi! Entendi tudo!”

            Me lembrei imediatamente, e minha mãe também vai lembrar, de uma doméstica que trabalhava la em Caxias quando eu e meu irmão éramos pequenos. Ela sempre me chamava de abençoada. Eu e meu irmão esperávamos a mãe e o pai irem trabalhar pra infernizar a vida dessa pobre. Descobrimos por acaso o pavor de lesma que ela tinha, bem como descobrimos o quanto uma "geleca" era parecida com uma lesma. Só me lembro que ela virava uma espécie de tiro ao alvo minha e do meu irmão, coitada!

      A ignorância é uma bênção! Eu preferia continuar acreditando que essa mulher era tão evoluída espiritualmente, mas tão evoluída, que conseguia ver em mim uma criança ABENÇOADA acima de qualquer tiro ao alvo. Mas NÃO! Ela tava era querendo me xingar, mas Jesus não deixava!

            Não me lembro do nome dela, mas Fulana, eu te autorizo! Eu merecia mesmo, pode me xingar mentalmente agora que eu “guento”! hahahaha

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